Hoje mesmo que
estupidamente ou consequentemente, compreendo o real significado de passar na
vida das pessoas, deixando marcas e lembranças. Infelizmente, tive que
experimentar este aborrecimento da vida. Confesso que para mim instantaneamente
foi uma repugnância, porque demorei a digerir o adeus.
Há uns anos atrás
quando eu ainda era uma menina inocente, mas voraz, sede de ter o mundo nas
mãos, queria sair daquela nostalgia e ver o além... Morava numa casinha de sapê
em meio a cinco membros típicos – tradicionais, entre estes a única menina.
Ingênua, sonhadora. Queria explorar o mundo, viajar, conversar e conhecer tudo
o que a caixa de madeira com botões, mostrava por meio da tela. Viagem que me
completaria um lado e amassaria o outro, abandonar costumes, objetos,
lembranças e acima de tudo pessoas. Mas sei que naquele momento eu precisava
completar o meu ego. Naquela época era incomum criar asas para a metrópole,
mesmo assim disse adeus e parti. Caminhei até o fim da estrada, com o coração
amarrado num saco plástico, virei-me levemente para trás e vejo ao longe as
faces em lágrimas e o léu abano das mãos. Mesmo ciente do que poderia
acontecer, mas com vitalidade para prosseguir – a mudança de cenários das
nossas vidas. Identificava-me por um momento com Macabéia, virgem, ignorante e
ao lento, não por destino, por opção.
E embarquei para a
viagem mais marcante: a vida! Oh vida! Escola do saber que não tem fim.
Atrapalhei-me em muitas bifurcações que ela tratou de me revelar. Apesar das
forquilhas, vivencie os momentos mais alucinantes, delinquentes e sutis
possíveis que um mero ser humano pode conviver. Deparei com pessoas que rumam,
ficam, vão, voltam, choram, perdem, aprendem, caem, levantam... E então, no
meio dessa miscigenação de encontros e desencontros, nada mais intrigante do
que citar o eterno e incomparável Mário Quintana. Ele diz que “com o tempo, não
vamos ficar sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos
outros”.
Por fim, prefiro não ficar
triste. Por ter partido tão jovem de casa e perder a afeição de quem realmente
me amava, prefiro acreditar no destino e hoje com a sabedoria adquirida com leituras
e com a escola do saber, sinto-me segura para dizer que se amamos mesmo,
levaremos somente momentos de felicidade, que completam nosso dia de uma forma
mais alegre e esperançosa. Além do mais, as mãos, que antes nos amparavam nos
momentos de dificuldade e, que por ventura agora não existem mais, pelo menos
não do jeito que queríamos, ainda nos tocam em nossos corações, como um vento
frio que sopra no meio da noite. Amamos e sempre amaremos independente da
distância física e temporal.
Ressurgimos, então, cada qual no lugar que nos cabe. A vida afiada. A
felicidade e a sabedoria presentes. Cabe
ressaltar neste exato momento a ternura e o saber de Chico Xavier com suas
sabias palavras “Embora ninguém possa voltar atrás e
fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.
Autoria: ROSANGELA